Só
"O Grande Teatro de Oklahoma vos chama! Só hoje, só uma vez! Quem agora perder esta oportunidade, perde-a para sempre! Quem quiser ser artista, dirija-se a nós! Todos são bem-vindos!".
Franz Kafka - Amerika ou O Desaparecido
Explorando o Teatro de Objetos – a vertente mais moderna do Teatro de Animação, que se vale de objetos prontos (ready-mades) em lugar de objetos – o Grupo Sobrevento criou um espetáculo sem palavras em que os atores compõem situações patéticas, emocionais, em quadros que se aproximam de instalações plásticas contemporâneas. Só, do GRUPO SOBREVENTO, fala da solidão e da desumanização nas grandes cidades e no mundo moderno.
A montagem foi concebida a partir de intercâmbios com a belga Agnès Limbos e com o italiano Antonio Catalano – artistas de grande renome internacional, e de um grupo de estudos com diferentes artistas brasileiros. Só conta com música de Arrigo Barnabé, figurinos de João Pimenta, cenário de André Cortez e iluminação de Renato Machado. Para a criação da obra, o Sobrevento tomou como ponto de partida livro O Desaparecido ou Amerika, primeiro romance de Franz Kafka, publicado em 1927.
Só foi criado com o apoio do Programa Rumos Itaú Cultural e do Programa Municipal de Fomento ao Teatro.
SINOPSE
Em Só, cinco personagens apresentam-se em diferentes situações, não sequenciais, que partem, sempre de objetos que, retratados exatamente como os objetos que são, terminam por transformar-se em elementos poéticos e metafóricos. Os cinco personagens, mais que cinco vidas, são cinco caminhos que terminam por encontrar-se, mesmo mantendo, neste encontro, as suas solidões.
O TEATRO DE OBJETOS EM SÓ
Para a criação do espetáculo, o SOBREVENTO explorou as limitações e o potencial do Teatro de Objetos – vertente mais moderna do Teatro de Animação, que propõe o uso de objetos prontos no lugar de bonecos. Deparou-se com um paradoxo: aquilo que o havia atraído por parecer uma possibilidade de ruptura revelou-se também uma armadilha, uma convenção: um teatro feito geralmente por um ator, que ordena objetos sobre uma mesa, para contar uma história, lançando mão de metáforas.
Resolveu fazer o que já havia feito em relação ao Teatro de Bonecos: dar um passo além, rumo a um abismo, a um lugar desconhecido, a um teatro sem nome, onde pudesse encontrar a intensidade e a urgência necessária para falar ao público de hoje.
Decidiu quebrar o espaço da mesa e, com isto, provocar uma outra relação do ator com o objeto, fazendo com que ele deixasse de ser um narrador e passasse a ser um personagem dentro daquele universo ao qual o objeto remetia. Ao mesmo tempo, a pesquisa partiu de um texto que fala justamente desse desconhecimento, desse desajuste, dessa necessidade de se relacionar que parece cada vez mais difícil, em um mundo cada vez mais populoso, cada vez mais conectado e cada vez menos humano.
Tomando como ponto de patida o romance inacabado O DESAPARECIDO ou AMERIKA, de Franz Kafka, o SOBREVENTO percebeu que as palavras não conseguiam exprimir o que tentava dizer. Por isto, não tentou encenar o texto de Kafka, mas fazer dele um disparador do que o moveu a desenvolver este projeto: a desumanização nas grandes cidades e no mundo moderno. Embora as palavras de Kafka não estejam em cena, a atmosfera de sua obra terminou por impregnar cada cena do espetáculo. E para criar esta realidade particular, o SOBREVENTO uniu-se a artistas reconhecidos pelo desejo de criar novos mundos. O compositor Arrigo Barnabé foi convidado a quebrar o silêncio que os atores se haviam imposto. O estilista João Pimenta veio para vesti-los, para cobrir as personagens, ao mesmo tempo em que as revelava. O cenógrafo André Cortez foi incumbido de preencher o vazio que separa os vários mundos, dentre os infinitos que existem (ou inexistem). E Renato Machado chegou para sugerir detalhes, minúcias, segredos. Reunindo as várias perplexidades, os diferentes assombros, as muitas inquietações de tantos artistas, o SOBREVENTO quer falar da fraqueza, da vulnerabilidade, da insegurança, da fragilidade e dos sonhos de pessoas que estão em busca de algo que jamais alcançarão.