O Copo de Leite
Em uma arena
Com as mãos vazias
Buscando entender-se
Com os jovens
Como os jovens
Espetáculo convidado a representar o Brasil na Espanha, em março de 2008, no TEATRALIA - um dos mais importantes e seletivos Festivais de Artes para a Infância e a Juventude da Europa - e a participar, em Juazeiro do Norte (CE), em novembro de 2007, da MOSTRA SESC CARIRI DE CULTURA, um dos maiores Festivais de Artes do Nordeste do Brasil.
Falar aos jovens
Quem são os adolescentes? Quem são estes que, em uma linha de sombra, encerram a sua infância para entrar em uma vida adulta. Pesam sobre eles muitos preconceitos: são agressivos, cínicos, destruidores, são selvagens, andam em bandos, são brutos, rudes, são frios... Preconceitos que, algumas vezes, os próprios jovens terminam por vestir, enquanto buscam se entender, se reconhecer, se incluir. Então os jovens não são – ou não são também – todo o contrário do que se diz, normalmente deles: inseguros, esperançosos, solitários, complexos, profundamente sensíveis e emocionais? Não é a força dos jovens – que admiramos e invejamos - a sua maior fragilidade? Este espetáculo que o SOBREVENTO oferece ao público jovem é todo o contrário do que, de início, o Grupo podia pensar que um espetáculo para jovens deveria ser. Nasce de uma pesquisa direcionada, originalmente, à comunicação com a primeira infância e que terminou por encontrar paralelos com questões ligadas à juventude e a possíveis relações com ela, através do Teatro. O Sobrevento oferece aos jovens, aqui, a proximidade, a simplicidade e a delicadeza e convida à reflexão. Deixa os bonecos de lado, em troca da total ausência de objetos em cena – porque este também é o Teatro de Bonecos que o SOBREVENTO faz – e lembra não só as palavras de Manuel Rojas, autor do conto que deu origem a esta montagem, mas também as de Bernard Shaw, quando diz: “A juventude, à qual tudo se perdoa, não se perdoa nada”.
Sem bonecos, mas não muito
As dúvidas, inseguranças e os ideais do universo dos adolescentes são o tema de O COPO DE LEITE, primeira montagem do grupo SOBREVENTO destinada a adolescentes. A montagem baseia-se no conto homônimo do autor chileno Manuel Rojas e é o primeiro espetáculo do grupo que não conta com nenhum tipo de boneco em cena. Sozinha em cena, Sandra Vargas cria um espetáculo intimista, onde cada gesto é cuidadosamente planejado e desenhado, como na manipulação de um boneco.
O COPO DE LEITE mostra uma história dentro de outra história. Uma mãe vê seu filho desesperado perante as angústias e situações da adolescência. Para acalmá-lo, conta-lhe a história que sua mãe lhe havia contado quando se encontrara na mesma situação. A história fala de um jovem marinheiro que viajava clandestino e que, abandonado em um porto qualquer, longe de casa, tem que enfrentar, sozinho, um mundo avesso a ele, bem como a própria inexperiência em lidar com ele. Inseguro, despreparado, orgulhoso, não aceita a ajuda de outros. Após seis dias sem comer e sem forças para trabalhar, decide enfrentar a situação e descobre que o mundo é mais simples do que imagina e que talvez seja próprio da idade fazer tempestades em copos de água.
Luiz André Cherubini lembra que Bernard Shaw tem uma frase famosa que parece ter muito a ver com este espetáculo: “Os jovens, a quem tudo se perdoa, não perdoam nada a si mesmos”. Cherubini acrescenta: “Pesam sobre os adolescentes muitos preconceitos e, algumas vezes, os próprios jovens terminam por perder-se e afastar-se de si mesmos, vestindo estes mesmos preconceitos, enquanto buscam ser entendidos, se reconhecer e se incluir”.
Autor de destaque no Chile
Nascida no Chile, a atriz e adaptadora do texto, Sandra Vargas, conta que Rojas é um escritor destacado naquele país. “Ele inovou a forma de narração, valendo-se de elementos como o monólogo interior da personagem, e fugiu do naturalismo para uma espécie de hiper-realismo”, conta ela, que para montar pela primeira vez o texto no Brasil procurou a filha do autor, María Eugenia Rojas. “O grupo está mantendo contato constante com ela, o que tem ajudado muito”, afirma a atriz.
Na adaptação, Sandra procurou salientar a passagem dos adolescentes para a vida adulta e a constante busca da inclusão, do reconhecimento e do auto-entendimento. “Rojas explora ambientes e personagens marginais e seu principal personagem, protagonista de quatro romances – que constituem a sua chamada “tetralogia da aprendizagem –, é justamente um jovem em formação”. Sandra fez o cruzamento da história de Rojas com uma situação familiar e, com isto, opta por dar relevo à cobrança e à rigidez dos jovens consigo mesmo, mais que a outros aspectos apresentados pelo autor em sua obra.
SOBREVENTO sem bonecos
Em O COPO DE LEITE, o SOBREVENTO deixa, pela primeira vez, os bonecos de lado e joga foco no trabalho do ator. “Optamos pela total ausência de objetos em cena. Há apenas um tapete no palco e uma atriz com as mãos nuas”, adianta o diretor Luiz André Cherubini. Ele conta também que preferiu a simplicidade e a delicadeza, além da proximidade com a platéia – acomodada sobre o palco, junto com a atriz – como um convite à reflexão.
“Algumas projeções de silhuetas também fazem parte do cenário todo branco”, diz Luiz André Cherubini. O grupo fez um ensaio aberto para 60 jovens de uma escola de São Paulo, que se identificaram com o texto. “Sentimos o impacto que a peça produziu, por conta da identificação e do envolvimento que o tema e a sua abordagem terminam por criar”, conta.
Manuel Rojas
Embora nascido em Buenos Aires, em 1896, Manuel Rojas é considerado um dos escritores mais importantes do Chile, país em que se radicou em 1912. Sua vida dura e rica de ofícios e viagens reflete-se em seus romances e contos, não só nas situações que desenvolve, mas também nas personagens marginalizadas que apresenta. Não por acaso, seu personagem mais importante é um adolescente, um jovem em formação, que protagoniza uma série de quatro romances, conhecida como Tetralogia da Aprendizagem (escrita entre 1951 e 1971). Morreu em 1973, deixando uma obra importante e transformadora da literatura de seu país.