Sala de Estar
Fragilidade humana. Esse foi o ponto de partida da pesquisa empreendida pelo Grupo Sobrevento nos anos de 2012 e 2013,
que culminou com a estreia do espetáculo SALA DE ESTAR, sua montagem mais recente, subvencionada pelo apoio do Programa Municipal de Fomento ao Teatro
para a Cidade de São Paulo. SALA DE ESTAR é um espetáculo itinerante onde os espectadores só precisam dar alguns passos para lá ou para cá,
em uma arena onde as cenas acontecem em torno do público: uma experiência que lembra uma instalação plástica e que garante à montagem um clima de intimidade e proximidade.
Em janeiro de 2012, a companhia criou núcleos de estudo para se debruçar sobre a dramaturgia no Teatro de Animação voltado ao público adulto,
aprofundando-se na questão da fragilidade. A partir do mote escolhido, o grupo criou uma encenação que traz ao espectador seis cenas, seis estações cênicas
onde são desenvolvidas histórias cujo estopim partiu de um segredo, uma confissão do ator. Cada intérprete, ainda na fase da pesquisa, foi instado a confessar
um segredo (não necessariamente ou totalmente verdadeiro), algo que, emocionalmente, fizesse diferença na trajetória de vida deles. Brotou, nesse momento, junto com o tom confessional, a fragilidade do ser
humano.
A partir da ótica de cada um dos atores, são compartilhados com o público, com delicadeza e singeleza, as lembranças e segredos – nem sempre verdadeiros –
adormecidos em suas memórias. Para o desenvolvimento da ideia, os atores se valem de objetos – gaveteiros, escrivaninhas, sofás, chapeleiros, bloquinhos, cartas –
para, junto com a dramaturgia, dar corpo e voz à fragilidade de cada um dos personagens.
Sala de Estar foi criado a partir das possibilidades e limitações do Teatro de Objetos, a vertente mais moderna do Teatro de Animação. A técnica baseia-se no uso de
objetos prontos, ready-mades, no lugar de bonecos, deslocando-os da sua função (mas sem transformar a sua natureza), para explorar uma dramaturgia que se vale de
metáforas, símbolos e figuras de linguagem, em lugar da manipulação propriamente dita.
Para acompanhar a pesquisa desenvolvida, o Grupo Sobrevento convidou grandes nomes internacionais: Agnés Limbos, da La Gare Central, uma das mais importantes
companhias de teatro da Europa, sediada na Bélgica e Antônio Catalano, ator italiano dos mais originais e interessantes da atualidade, fundador da Casa Degli
Alfieri situada nas colinas de Monferrato (província de Asti, norte da Itália).
Dramaturgia e Concepção da Montagem
A pesquisa do novo espetáculo teve como ponto de partida a exploração da linguagem do Teatro de Objetos, cruzando-a com o tema fragilidade. Na primeira fase,
o grupo investigou as possibilidades da construção de uma dramaturgia intimista e delicada a partir dos objetos. A partir de depoimentos pessoais dos atores,
foram criadas improvisações baseadas nas suas relações com seus objetos.
Nasceu, desse processo confessional, a dramaturgia do espetáculo, baseada nos depoimentos pessoais e que resultou em seis cenas, que transitam entre a verdade
e a mentira, a confissão e a ilusão, cada uma delas feita por um ator. A encenação ocupa todo o galpão do Espaço Sobrevento, dividido como se fossem recortes
de salas de estar de diferentes pessoas, de diferentes épocas.
O iluminador Renato Machado e o figurinista João Pimenta, responsáveis pela ambientação das cenas, ajudaram a criar módulos de grande impacto visual,
onde atores e objetos se fundem aos ambientes nos quais estão encerrados, nos quais se incrustraram, por suas histórias.