Orlando Furioso
ORLANDO FURIOSO é um espetáculo teatral para adultos baseado no texto homônimo de Ludovico Ariosto, com bonecos movimentados por vergalhões de ferro. Com 90 cm e pesando 3,5 Kg, estes bonecos são construídos conforme uma técnica siciliana tradicional e fazem movimentos vigorosos, como nenhum outro tipo de boneco é capaz de fazer. Conhecidos como pupi, estes bonecos são ideais para a encenação de combates armados, paixões arrebatadoras, loucura, ingredientes deste poema épico, baseado em canções de gesta que remontam ao século XI. A montagem narra a história do amor que levou Orlando, o maior paladino da França à loucura, pondo em risco o exército de Carlos Magno e o domínio cristão na Europa. Com quatro atores-manipuladores e música ao vivo executada por três músicos (violão, canto e viola caipira; acordeão e percussão), ORLANDO FURIOSO foi realizado com o apoio do PAC – Programa de Ação Cultural – da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo.
A técnica dos pupi
Feitos de madeira, com armaduras de bronze, cobre e alumínio, os 19 bonecos do espetáculo foram confeccionados ao longo de seis meses, em um trabalho de oito horas diárias. O acabamento meticuloso das armaduras, em metal repuxado, e dos figurinos dos bonecos chama particularmente a atenção e revela o caráter artesanal e delicado de sua elaboração. O elemento definidor da técnica de animação destes bonecos é a utilização de varões pesados de ferro presos à cabeça e ao braço direito das figuras. Muito pesados, estes bonecos são manipulados por cima e adquirem movimentos de grande vigor e vivacidade, demandando muito esforço físico dos bonequeiros. Os pupi, bonecos de varão característicos da Sicília, semelhantes aos usados na montagem do SOBREVENTO, são considerados patrimônio imaterial da humanidade pela Unesco. Variantes da técnica de varões podem ser encontrados, particularmente, em Évora (Portugal) e em Liège e Bruxelas (Bélgica).
Os pupi no Brasil
O SOBREVENTO é, hoje, o único grupo em atividade no Brasil que domina a técnica dos pupi e dos bonecos de varão. Sabe-se, por documentos argentinos, da passagem de alguns pupari (marionetistas italianos) pelo Brasil, provenientes da Sicília e de Nápolis, no início do século XX. Não há, porém, documentos de conhecimento público que registrem suas apresentações por aqui. O único registro da atividade de um puparo no Brasil refere-se às atividades de Dante Santaguida (1924-1983), natural de Lecce, no sul da Itália, que mantinha um restaurante na cidade de Londrina (PR), onde realizava apresentações freqüentes com seus bonecos. Em sua variante portuguesa, os títeres de varão tiveram presença importante no Brasil, até o século XIX. Para o SOBREVENTO, a importância de se recuperar esta técnica no país está no quanto ela traduz a nossa Cultura.
Orlando Furioso e Ludovico Ariosto
Ludovico Ariosto nasceu em Reggio Emilia, em 1474, e morreu em Ferrara, em 1533. Filho de um membro do tribunal de Ferrara, estudou Direito, abandonando a carreira para dedicar-se à Poesia. A obra de Ariosto é vasta: Poesias líricas latinas (1493/1503), sátiras, peças de teatro, etc. Sua obra mais famosa é o poema Orlando Furioso, continuação de uma obra anterior de Matteo Maria Boiardo entitulada Orlando Enamorado. O poema, composto de 46 cantos em sua versão final, alcançou grande sucesso, por ocasião de sua publicação. Nele, o poeta ridiculariza a nobreza feudal em decadência, ao mesmo tempo em que prenuncia o novo homem da Renascença. Além de seus aspectos sociais, a obra consegue unir um enredo fantástico a uma versificação harmoniosa.
Orlando Furioso foi traduzido em quase todas as línguas e no próprio século XVI foram feitas mais de 60 edições do poema. Narra uma série de episódios que derivam de épicos, romances e poesia heróica da Idade Média e início do Renascimento, destacando-se três histórias nucleares à volta das quais as outras se formam: o amor de Orlando por Angélica - a de maior importância; a guerra entre cristãos (liderados por Carlos Magno) e mouros (liderados por Agramante) perto de Paris - que constitui o cenário épico para toda a narrativa; e o amor entre Ruggiero e Bradamante. Ariosto ainda deixou o poema inacabado Rinaldo Ardito.
A equipe
ORLANDO FURIOSO conta com cenários e figurinos de André Cortez e música original de João Poleto. O SOBREVENTO é formado por Luiz André Cherubini, Sandra Vargas, Maurício Santana e Anderson Gangla. A estrutura, mecanismos, adereçaria e confecção de armaduras dos bonecos é de Luiz André Cherubini, Anderson Gangla, Maurício Santana e Marcelo Amaral, com a colaboração de Paulo Caverna e Elza Martins. A escultura de mãos e cabeças é de Agnaldo Souza, a pintura é de Léia Izumi, os figurinos dos bonecos são de Sandra Vargas. Para dar início à pesquisa dos pupi, o SOBREVENTO recorreu a Luciano Padilla, argentino, especialista da técnica, trazendo-o ao Brasil para orientar os estudos e confecção. O processo de confecção dos bonecos teve início com um estágio aberto pelo Grupo, ao qual candidataram-se mais de 40 bonequeiros de cinco estados brasileiros para as 10 vagas oferecidas.